Meditação Bíblica

sábado, 22 de janeiro de 2011

CURA OU CURANDEIRISMO?

O dom de cura é um tipo de manifestação espiritual que encontra total fundamento nas Escrituras Sagradas. No entanto, nos dias atuais é fácil observar em algumas reuniões religiosas e nos programas televisivos destinados ao público gospel abusos com relação ao uso dos dons espirituais. Contudo, esses abusos que eventualmente são cometidos não invalidam a prática destas manifestações bíblicas e espirituais.

O que se faz necessário diante de tal problema é volver para Bíblia e, com calma, verificar se estas manifestações estão de acordo com a palavra de Deus. Para tanto, tem-se como base o texto de 1Coríntios 12:1-11 no qual o apóstolo Paulo aborda acerca dos dons espirituais, dentre os quais, ele relaciona o dom de cura que, por sua vez é objeto deste artigo. Assim com o propósito de doutrinar os crentes de Corinto sobre o uso correto dos dons espirituais, Paulo ensina sobre o assunto em questão.

No texto em análise extraído da edição revista e atualizada da tradução da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida (RA), verifica-se que o apóstolo Paulo trouxe um ensinamento bastante importante sobre o emprego correto dos dons espirituais. No versículo sete do capítulo doze, ele escreveu que: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1Co 12:7). Assim, como se vê os dons espirituais tem como propósito um fim proveitoso. Mas o que de fato Paulo quis dizer com esta expressão: “fim proveitoso”.

Os tradutores que produziram a versão da Bíblia na linguagem de hoje (BLH) expuseram de forma bem mais clara esta expressão (“fim proveitoso”) e no seu lugar empregaram a frase: “para o bem de todos”. Dessa forma, constata-se pela combinação dessas duas versões bíblicas que os dons espirituais são concedidos visando um fim proveitoso o qual é o bem de todos os membros do corpo de Cristo que é a Igreja.

Logo, tem-se em termos bem simples que os dons espirituais têm como propósito o bem comum de todas as pessoas da comunidade e não de uma só pessoa que de forma egoística deseja se projetar perante os demais membros Igreja. Pois, os dons espirituais não são de propriedade particular dos seus portadores; mas de Deus que os distribuem individualmente como lhe apraz por intermédio do seu Espírito Santo (1Co 12:11).

Nessa mesma linha de pensamento vem corroborar os ensinamentos do apóstolo Pedro que de maneira bem sucinta também leciona acerca dos dons espirituais e escreve:



Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (grifei) (1Pe 4:10-11).



Pela leitura do texto acima e observando as frases em destaque no mesmo, observam-se pelo menos dois importantes preceitos bíblicos que devem pautar o uso dos dons espirituais, são eles: (1) Servi uns aos outros; e (2) Em todas as coisas Deus ou Jesus Cristo devem ser glorificados. Logo, sabendo desses preceitos e frente a um caso concreto de uso dos dons espirituais, o crente deve se questionar. A pessoa que está portando o dom está efetivamente servindo os outros, ou está de forma egoística servindo os seus interesses particulares? Deus ou Jesus Cristo estão sendo glorificados por meio dessa possível manifestação espiritual? Se a resposta for positiva para as duas perguntas então é por que o dom está sendo empregado de maneira correta.

O fato é que conforme mencionado no início deste artigo, muitos líderes religiosos usam de forma irresponsável os dons espirituais e em particular o dom de cura. E dessa forma, em tese, cometem uma prática tipifica no artigo 284 do nosso Código Penal descrita como sendo crime de curandeirismo (Capítulo III “Dos Crimes Contra a Saúde Pública”). Senão, vejamos:



Art. 284 – Exercer o curandeirismo:

I – [...];

II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III – [...]:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único – Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.



Pela simples leitura do dispositivo penal, constata-se que o crime de curandeirismo é uma prática ilícita na qual o agente realiza procedimentos mágicos e coloca em risco a saúde das pessoas em geral utilizando: gestos, palavras ou qualquer outro meio. Para esse tipo de crime a reprimenda é uma detenção na qual o tempo mínimo é de seis meses e o máximo de dois anos; e caso o agente tenha praticado a ação visando o proveito próprio mediante recebimento de remuneração incidirá na forma qualificada do crime, podendo então pagar uma multa além da detenção.

Verifica-se diante de tal situação um dilema para os crentes, levando-lhes possivelmente a fazer algumas perguntas diante de um caso concreto, tais como: Caso venha ministrar a cura sobre uma pessoa doente ou enferma será que estarei incidindo na prática de curandeirismo? Será que devo fazer uso do dom que Deus me concedeu e ministrar a cura sobre as pessoas doentes ou enfermas? Como devo me comportar diante de tal situação? Será que devo ser negligente para com o dom que há em mim?

Vejam que as indagações são muitas. Entrementes, não há que se falar em prática de curandeirismo para aqueles crentes que, efetivamente, foram agraciados por Deus com o dom de cura e usam esse dom com discernimento e responsabilidade. Um bom exemplo disso é o próprio Jesus Cristo que na cidade de Jerusalém e nas regiões circunvizinhas curou diversas pessoas doentes e enfermas sem nunca ter colocado em risco à saúde delas com os seus métodos; ou sequer falhou ao ministrar cura na vida dessas pessoas; ou então solicitou qualquer tipo de remuneração pela benção concedida.

Seguindo o exemplo de Jesus, temos os apóstolos que também curaram pessoas doentes e enfermas e não colocaram em risco a saúde das pessoas; ou falharam ao ministrarem a cura; ou então solicitaram ou exigiram qualquer remuneração em troca da cura. Sendo assim, caso o crente possua o dom de cura e, de acordo com a Bíblia, faz o seu uso com discernimento e responsabilidade não estará realizando curandeirismo; mas sim ministrando a cura.

Em síntese, dessume-se que o curandeirismo é uma prática criminosa na qual o agente coloca em risco a saúde das pessoas fazendo uso de procedimentos mágicos e, muitas das vezes, visando obter algum tipo de benefício próprio. Enquanto que o dom de cura é uma prática bíblica e uma manifestação espiritual que visa um fim proveitoso para todos os membros do corpo de Cristo que é a cura de uma pessoa doente ou enferma da comunidade; tudo isso sem solicitar ou exigir qualquer forma de benefício pessoal em troca. Enfim, essas são as diferenças existentes entre o dom de cura e o curandeirismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. 2ª ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.



BÍBLIA. Português. Tradução na linguagem de hoje. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1988.



BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de setembro de 1940. Código Penal (CP).



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/56681/1/CURA-OU-CURANDEIRISMO-/pagina1.html#ixzz1Bny3L4wC